TEMÁTICA


“Uma boa teoria deve satisfazer a dois requisitos: Precisa descrever com precisão um número razoável de observações, com base em um modelo que contenha poucos elementos arbitrários; e deve prever com boa margem de definição resultados de observações futuras. Qualquer teoria é sempre provisória, no sentido de que é apenas uma hipótese, você nunca poderá prová-la em definitivo. Não importa quantas vezes os resultados das experiências estejam de acordo com algumas teorias, não se pode ter certeza de que a próxima vez o resultado não irá contradizê-las. Por outro lado, você pode refutar uma teoria por encontrar uma única observação que não concorde com as suas previsões”

Stephen Hawking (Uma Breve História do Tempo)

As informações aqui contidas não têm caráter de aconselhamento e muito menos de diagnóstico.

Consulte sempre um profissional da saúde.

9 de nov. de 2009

A SINDROME DO MEMBRO FANTASMA


O cérebro é feito de mapas – do corpo, do mundo externo, dos sons do ambiente. Nos amputados, o mapa fica incompleto, mas os espaços "vazios" são logo preenchidos pelas regiões adjacentes .

Um mistério de fantasmas se revela aos poucos Neurociência tenta tratar com o poder da mente a dor do membro ausente dos amputados
As pessoas que sofreram amputação de uma parte do corpo sabem perfeitamente que não é alucinação ou mentira: elas têm de fato diversas sensações nessa parte ausente. Alguém que perdeu um braço, por exemplo, pode sentir dor nele ou ter a sensação precisa de que moveu os dedos ausentes para realizar uma tarefa qualquer. Geralmente essas sensações desagradáveis são provocadas por movimentos imaginários, inteiramente anômalos e forçados, como se as articulações se movessem no sentido antinatural, provocando dor. Essas estranhas percepções de regiões do corpo que não existem mais são conhecidas há muito pela humanidade, e chamadas atualmente síndrome do membro fantasma. A síndrome ocorre em cerca de 85% dos amputados, e suas manifestações podem variar desde um calor prazeroso até uma intensa coceira que não tem solução... porque não há o que coçar. Os neurocientistas já têm uma explicação parcial para o fenômeno, embora seu mecanismo preciso ainda não seja conhecido. Pior: os médicos não têm como tratá-lo, embora mais de 60 estratégias clínicas, cirúrgicas, psicológicas e alternativas já tenham sido propostas. Quem são os fantasmas?
O cérebro é feito de mapas – do corpo, do mundo externo, dos sons do ambiente. Nos amputados, o mapa fica incompleto, mas os espaços "vazios" são logo preenchidos pelas regiões adjacentes . Grande contribuição à compreensão da síndrome do membro fantasma foi dada pelo pesquisador indo-americano Vilayanur Ramachandran, autor de inúmeros trabalhos sobre o tema. Ramachandran e seus colaboradores investigaram o cérebro dos amputados utilizando técnicas de neuroimagem funcional, capazes de identificar as áreas cerebrais ativas quando as diversas partes do corpo são estimuladas. Ao tocar levemente o coto ou regiões corporais adjacentes, em pessoas que perderam um dos braços, o grupo descobriu que as áreas cerebrais ativadas eram as que anteriormente representavam o braço ausente. Isso significa, primeiro, que a amputação não fez desaparecer as áreas cerebrais correspondentes; e, segundo, que essas áreas passaram a receber informação de outras partes do corpo. A questão é que o cérebro do indivíduo aprendeu durante muitos anos de sua vida, antes da amputação, que a ativação daquela região específica devia ser interpretada como “braço”. Por isso, estímulos incidentes no coto, no ombro ou mesmo no queixo – um simples movimento involuntário, ou a passagem suave do vento – são percebidos como algo sentido no membro ausente. Até aí tudo bem. Mas o que de fato acontece no cérebro dos amputados? Será que as fibras nervosas que transmitem a informação das regiões adjacentes se deslocam e “invadem” a área cerebral que ficou sem função? Ou será que já havia anteriormente conexões “silenciosas” ligando no cérebro as diferentes regiões corporais, e essas conexões tornaram-se funcionais com a amputação? Essa é uma parte da história que ainda permanece misteriosa.
Roberto Lent Professor de Neurociência Instituto de Ciências Biomédicas Universidade Federal do Rio de Janeiro
Formatação e pesquisa:HRubiales

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