TEMÁTICA


“Uma boa teoria deve satisfazer a dois requisitos: Precisa descrever com precisão um número razoável de observações, com base em um modelo que contenha poucos elementos arbitrários; e deve prever com boa margem de definição resultados de observações futuras. Qualquer teoria é sempre provisória, no sentido de que é apenas uma hipótese, você nunca poderá prová-la em definitivo. Não importa quantas vezes os resultados das experiências estejam de acordo com algumas teorias, não se pode ter certeza de que a próxima vez o resultado não irá contradizê-las. Por outro lado, você pode refutar uma teoria por encontrar uma única observação que não concorde com as suas previsões”

Stephen Hawking (Uma Breve História do Tempo)

As informações aqui contidas não têm caráter de aconselhamento e muito menos de diagnóstico.

Consulte sempre um profissional da saúde.

13 de fev. de 2011

Fatores de risco para transtorno de estresse pós-traumático


Um grave problema presente em nossa sociedade são as crianças e adolescentes que (sobre)vivem em situação de vulnerabilidade. Elas fazem parte do chamado grupo de risco.


Neste grupo estão as crianças e adolescentes vítimas de tragédias naturais, abuso sexual, negligência, violência doméstica, bullying. Crianças que vivem na rua, dependentes de álcool e drogas, que moram em áreas de violência urbana, entre outras.


Violência e maus tratos na infância podem levar a distorções traumáticas negativas com interrupção do processo de maturação cerebral, com repercussões deletérias para o resto da vida. Estas crianças costumam evoluir com distúrbios de comportamento, dificuldades escolares, exclusão social e marginalização. Elas apresentam com muito mais frequencia transtornos psicológicos e psiquiátricos diversos, nos mais variados graus de intensidade.


Os fatores de estresse e os traumas, quando constantes e não interrompidos, podem gerar sintomas pós-traumáticos crônicos com agravamento de problemas como depressão, abuso de drogas ou a desfechos ainda mais graves, como acidentes, brigas, roubos, prisão, suicídio e morte precoce, especialmente nesta faixa etária da infância e adolescência. 
Os fatores de estresse e os traumas, quando constantes e não interrompidos, podem gerar sintomas pós-traumáticos crônicos.
Os fatores de estresse são facilitadores para o desenvolvimento de doenças com repercussões imediatas e à longo prazo, podendo ocasionar problemas crônicos e interferir na qualidade de vida, na infância e na vida adulta.


O estudo Adverse Childhood Experiences, realizado na Califórnia, demonstrou forte associação entre o número de experiências adversas sofridas (abuso físico e sexual na infância e outros) a uma maior taxa de comportamentos de alto risco durante a vida adulta, incluindo abuso de drogas, obesidade, depressão, tentativas de suicídio, promiscuidade sexual e frequência de doenças sexualmente transmitidas. O número de experiências adversas também se correlacionava a cardiopatias, câncer, diabetes, doenças hepáticas e morte súbita ao longo da vida.


Já os fatores traumáticos podem ser definidos como causadores de danos, injurias ou lesões corporais ou mentais que ameaçam a própria vida ou a vida de outras pessoas queridas, por vezes levando à morte inesperada. Eles estão também associados a sensações de perda e de insegurança, além de maior vulnerabilidade e riscos de dissociação.


A violência social e estrutural também é sem dúvida um grande fator responsável pelo aumento da prevalência do transtorno de estresse pós‐traumático durante o desenvolvimento na adolescência.


Quanto mais estressado e ameaçado se sentir, mais o adolescente responderá com respostas e comportamentos primitivos e regressivos. O adolescente ameaçado só pensa em sobreviver naquele minuto. Isto é muito importante para entendermos os pensamentos, reações e comportamentos do adolescente traumatizado.


Outros fatores também contribuem negativamente, como ignorar tais problemas. Muitas vezes sequer tomamos conhecimento do grau de sofrimento e das agressões que perpassam a vida de uma criança ou de um adolescente.


Eles costumam sofrer calados, uma vez que sofrem ameaças para caso eles reclamem ou se queixem de alguma coisa. Temem a retaliação, inclusive por parte de um dos pais ou de um familiar. São as tragédias mudas.


Elas são silenciosas e estão presentes no dia-a-dia, fazendo das crianças e jovens as suas maiores vítimas. Ruptura da relação de confiança e proteção com a família ou pessoas de sua convivência social ocorrem nestas situações. A "dor emocional" é "invisível" ao profissional de saúde desatento, porém é marcante para o adolescente e não raro se multiplica em queixas e sintomas "evasivos". 
Muitas vezes, estas queixas parecem não ter nexo diagnóstico, sendo classificadas erradamente como reações de conversão, hiperatividade, ou transtorno desafiador.


O fato de que grande parte da população, incluindo pais, educadores e muitos profissionais de saúde ainda acharem que crianças e adolescentes não padecem de transtornos mentais, contribui muito para agravar o problema.


Muitas crianças com problemas evidentes de saúde mental podem viver anos de suas vidas despercebidamente, sem que a família ou a escola a percebam como tendo um problema de saúde. Ao contrário, o que vemos são acusações, humilhações e rótulos, como preguiçoso, idiota, estorvo, aéreo, não quer nada com a vida e outros.


Em consequência, fica compreensível que muitos problemas mentais em adultos possam ter a sua origem na infância. Assim, tem sido observado um aumento da procura em serviços de Saúde Mental infanto-juvenil para questões relacionadas ao estresse por trauma.


Há um interesse cada vez maior sobre o impacto de eventos traumáticos em crianças e adolescentes, até por conta dos recentes desastres naturais (tufões, furacões, terremotos, tsunamis) e dos "cataclismos" criados pelo homem, através dos atos de violência (guerras, violência urbana e doméstica, etc.).  
Problemas relacionados ao estresse pós-trauma e problemas psicológicos distintos certamente surgirão, com o passar do tempo, para muitas pessoas. 
Ao ser exposto a uma situação traumática violenta, o indivíduo desenvolve uma reação aguda ao estresse, que dura no máximo 30 dias e desaparece; porém, cerca de 15 a 20% das pessoas desenvolverão o TEPT ou transtorno de estresse pós-traumático. 




Nestas, os sintomas da reação aguda persistem e podem se cronificar e até, em certos casos, levar a alterações permanentes na personalidade do indivíduo. Em algumas situações, o paciente não tem uma reação logo após o evento estressante, podendo desenvolver o TEPT até um ano depois.

Especialidade: Neuropsiquiatra e psicoterapeuta

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